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CMI e o ciberativismo

⊆ 12:49 by Yuri Almeida | . | ˜ 0 comentários »





O ciberespaço inaugura um novo espaço antropológico e tem suas relações mediadas por computadores e/ou dispositivos tecnológicos (como celulares, smartphone, GPS). O espaço digital tornou-se um “suporte para os processos cognitivos, sociais e afetivos, os quais efetuam a transmutação da rede de tecnologia eletrônica e telecomunicações em espaço social povoado por seres que (re) constroem as suas identidades e os seus laços sociais nesse novo contexto comunicacional”. (SILVA, 2001, p. 153).


Nesse contexto, o ciberespaço figura também como palco para diversas manifestações de natureza política, principalmente movimentos sociais que reivindicam o direito à “voz”. O Centro de Mídia Independente - CMI é um exemplo destes movimentos que enxergam na comunicação uma estratégica ferramenta de luta contra os regimes opressivos em todo globo.

De acordo com André Lemos, “as tecnologias da cibercultura têm sido usadas como instrumento de comunicação para constituição e manutenção de redes de movimentos sociais. Estas são hoje articuladoras de ações políticas locais, quase sempre com apelos globais”.

A própria característica descentralizada da internet modificou o pólo de emissão, antes dominado pelos mass media e agora acessível e aberto a qualquer cidadão plugado na rede. Na opinião de Lemos, a sociedade contemporânea é marcada por “atitudes que buscam democratizar o acesso e facilitar a produção de informação, aumentar a circulação e o consumo dos bens culturais, reconfigurar as diversas práticas sociais e as estruturas da indústria cultural massiva”.

“A Internet não serve hoje apenas como forma de expressão do “mundo da vida”. Diversas ações ao redor do mundo mostram que formas de expressão política engajada (a partir de problemas globais e locais) surgem, são suportadas e expandem-se na internet. Estamos falando de diversas expressões do que se chama hoje de ciberativismo”, pontua Lemos.

A gênese do CMI evidencia as “novas atitudes” das quais se refere Lemos. Criado originalmente em Seattle, a Rede Indy Media surge com o objetivo de realizar a cobertura do "Encontro do Milênio" da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Novembro de 1999, com um outro olhar e que revelasse outras vozes, ocultadas pelos mass media.



“A idéia era de ter um site na Internet que recebesse e armazenasse, vídeos, imagens, sons e textos que poderiam ser publicados e reproduzidos sem copyright por qualquer pessoa ou qualquer órgão de mídia independente sem fins comerciais” explica o texto de apresentação do Centro de Mídia Independente.

A partir daí, o Indy Media tornou-se um espaço livre para o debate de idéias e publicação aberta de discursos silenciados pela grande mídia. Após nove anos ininterrupto de funcionamento, a rede ampliou suas ações para todos os continente e, atualmente, registra mais de cem Centros de Mídia Independente localizados em trinta países.


“O ciberativismo busca mobilizar, informar e agir, tendo como suporte essencial de luta as novas tecnologias do ciberespaço. Diversos grupos organizados usam portais para veicular informações relevantes às suas causas, mobilizam pessoas para uma ação em um determinado espaço público e agem de forma eletrônica em diversos protestos ao redor do mundo", explica Lemos.


Por uma mídia independente

No Brasil, as atividades do CMI tiveram início no dia 26 de setembro de 2000, em São Paulo, durante os protestos mundiais contra a globalização. Ao longo desse período, o site transformou-se em uma referência na cobertura das ações realizada pelos movimentos sociais, isso porque o lema do CMI é “Faça você mesmo!”.

“O CMI Brasil quer dar voz à quem não têm voz constituindo uma alternativa consistente à mídia empresarial que frequentemente distorce fatos e apresenta interpretações de acordo com os interesses das elites econômicas, sociais e culturais. A ênfase da cobertura é sobre os movimentos sociais, particularmente, sobre os movimentos de ação direta (os "novos movimentos") e sobre as políticas às quais se opõem”, diz a carta de apresentação.




Diariamente cidadãos-repórteres publicam seus textos na home do CMI, seja cobertura de uma manifestação, artigos analíticos sobre a conjuntura política nacional e internacional, organizam através do site protestos e ações, bem como comentam outros ângulos deixados de lado pela cobertura midiática. Tudo isso voluntariamente. Desta forma, o site torna-se um novo agente construtor da esfera de visibilidade pública e relativiza o papel único e exclusivo dos mass media na composição da agenda pública.

E não é apenas na internet que o CMI trava sua luta por uma mídia independente.

“Em primeiro lugar, há o site que pretende ser, não um projeto exclusivamente ligado à Internet, mas uma ponte entre a alta tecnologia (Internet) e as tecnologias tradicionais de mídia (principalmente rádio e jornal). A idéia é aliar as possibilidades técnicas da Internet à difusão de informações por meios tradicionais. Assim, por exemplo, são armazenados arquivos de áudio no site que são depois veiculados em rádios livres e comunitárias; alguns coletivos da rede CMI Brasil também elaboram boletins de notícias que são enviados para rádios que o utilizam como base para noticiários radiofônicos comunitários. O mesmo procedimento é utilizado na elaboração de jornais tradicionais, como o "Ação Direta", ou jornais-poste como o "CMI na Rua" e "O POSTe". Os Centros de Mídia Independente também produzem periodicamente documentários. Alguns dos vídeos produzidos pela rede CMI Brasil foram "Não começou em Seattle, não vai terminar em Québec" (sobre protestos contra a ALCA em São Paulo), "Anita Garibaldi" (sobre a maior ocupação urbana do Brasil) e "Repórteres Populares" (sobre a formação de repórteres em movimentos sociais)”.


Como funciona

O site é divido em três colunas. A da esquerda tem o caráter “institucional”, onde são apresentados as atividades, projetos e locais que possuem um coletivo em funcionamento e demais ferramentas do site, como chat, busca e newslatter. A coluna do meio destaca os principais acontecimentos, as grandes manifestações, além de potencializar denúncias e mobilizar os voluntários para determinada ação direta. Esta coluna é de responsabilidade de um corpo editorial, responsável em selecionar o que irá “subir” na coluna principal, articular esse tema escolhido com as postagens realizadas pelos voluntários na coluna à direita. O corpo editorial é mutante e os debates ocorrem via lista grupal, não há centralização tampouco hierarquia nas decisões. Por fim, e o mais importante é a terceira coluna, uma espécie de ágora dentro do CMI, destinada ao debate, espaço livre para publicação de textos (desde que não maculem o editorial) e mobilização para determinadas ações.


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*Citações de André Lemos retirado do artigo Ciberativismo.